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A Vida do Humberto Luiz

O nosso herói não possuía beleza física, mas uma beleza diferente, que vinha de dentro, meio inexplicável. Não falava, mas era muito comunicativo e todos o entendiam. Não fez cursos, a escola pouco frequentou, não sabia ler nem escrever, mas era de uma inteligência espantosa. Ele andava com dificuldade, mas ia aonde os outros não conseguiam chegar. Antes de nos deixar, não enxergava, mas era de uma perspicácia aguda, percebia pessoas e situações profundamente. Era tão sensível que nos avisou da sua partida com antecedência, como que querendo nos preparar. Deus era muito forte nele.

Vamos contar como tudo aconteceu e o porquê de o considerarmos o nosso herói: “Ao nascer Humberto Luiz, foi um tempo de grandes preocupações. Foi uma gravidez com alguns problemas, perdi muito líquido do sexto ao nono mês. Meu ginecologista não deu importância a este fato. No dia de seu nascimento comecei a sentir as contrações, José Mariano chamou o médico em nossa casa. Este disse que o parto iria demorar muito e que era desnecessário ir para o hospital, que esperasse mais. Depois que o médico saiu de nossa casa, vi à minha frente minha mãe, que já havia morrido há quatro anos, e ela me mandou ir, imediatamente, para o hospital. José Mariano assustou quando cheguei a ele para dizer que fôssemos logo, ele retrucou : “Como? O médico saiu daqui agora e disse-nos para esperarmos.” Relatei a ele a visão, quando percebeu que eu já estava saindo, seguiu-me. Ao chegarmos ao hospital, não houve tempo para nada. Já fui direto para a sala de parto. Ao chegar o médico, a criança já estava quase nascendo.

Foi uma correria. Ao nascer, colocaram-no em cima de mim, vi suas pernas esticadas e duras, depois o médico e as enfermeiras pegaram-no para fazer massagens, dar tapas para que chorasse. Demorou a chorar. Levaram-no para uma sala ao lado e vi que todos estavam preocupados e nada me falavam. Como comecei a perguntar se estava vivo, enrolaram-no em panos e trouxeram-no para que eu o visse. Não me explicaram nada. Fui para o quarto, mas não o levaram, como continuava a perguntar, disseram-me que foi necessário colocá-lo na incubadora. No dia seguinte pela manhã, levaram-no para o quarto e deram-me alta. Percebi seu nariz roxo, ao perguntar o que havia acontecido explicaram-me que havia engolido mecônio e foi necessário uma lavagem estomacal. Saí do hospital sem que um pediatra o houvesse examinado e sem saber de seus problemas. Em casa percebi que eu não tinha leite, fiz uma mamadeira e para minha surpresa ele não sugava. Ao desenrolá-lo para trocar fralda, vi que suas pernas não tinham movimento. Algo muito grave havia acontecido, não chorava, era um som rouco que emitia e percebi ser choro por sua fisionomia contraída.

Ao chegar o pediatra, examinando-o constatou ter havido falta de oxigênio no cérebro atrofiando-o, provocando uma paralisia cerebral total. Nasceu sem reflexo algum, não sabia sugar, era alimentado com conta-gotas. Tinha três hérnias, escrotal e inguinal, não conseguia controlar a temperatura. Subia a mais de quarenta graus, neste momento era preciso tirar toda a roupa, depois a temperatura começava a abaixar, era preciso enrolá-lo todo com todas as cobertas da casa e bolsa de água quente. Teve alergia a todo tipo de leite, houve um tempo que era alimentado com caldo de batata, cará, chuchu e folha de gelatina. Até os três meses, suas pernas não movimentavam. Tomava calmantes, estimulantes cerebrais, remédios para tireóide, muitos antibióticos. Precisava levá-lo, constantemente, a pediatras, neurologistas, exames constantes. Chorou durante dois meses seguidos, noite e dia – percebia-se pela contração de seu rosto e por um som surdo e rouco. Noite e dia, embalava-o tentando descobrir a causa de seu choro. Era muito fraco, tudo nele era grave. Demorou a firmar a cabeça. Quanta preocupação, quanta aflição. Os médicos me diziam: “Vai cuidar de seus outros filhos, pois este não vai dar nada, não vai aprender nem hábitos. Interne-o em algum lugar”.

Aos três anos, dava acessos horríveis, de ficar várias horas contorcendo-se, batendo, repuxando. Era super excitado e começou a ter crises de agressão. Ele tão magro, tão sequinho, nesta hora adquiria uma força extraordinária e me agredia. Foi quando Irmã Benigna entrou em minha vida. Ela chegou alegre, transmitindo paz, fé, confiança em Deus. Ao ver o Humberto disse-me : “Vamos rezar o Terço.” Terminamos a oração e, daquele dia em diante, começaram as suas melhoras. Depois da primeira oração da Irmã Benigna em nossa casa, ela passou a vir constantemente, quando vinha a Belo Horizonte. Fui notando que o Humberto começou a perceber melhor as coisas, a movimentar e a copiar o João. Para comer precisava amarrá-lo a mim, porque não firmava a cabeça e toda a sua alimentação era batida no liquidificador. A comida escorria de sua boca. Deus me iluminou e um dia pensei: se continuar assim, não aprenderá a comer. Comecei a misturar alimento sólido e aos poucos começou a alimentar melhor e a ficar mais forte. Passou a ter interesse em brincar, até ir para o chão e começar a acompanhar o irmão mais novo, João, assentado e arrastando. João foi seu professor e assim tudo ia copiando e desenvolvendo, até começar a andar. Assim crescia e sua inteligência desabrochava. Começou a frequentar uma escola. Participava do conjunto de seresta da Irmã Benigna, junto ao seu irmão e sobrinhas, tocando pandeiro. Médicos e remédios já não eram necessários. Ela preparou a sua Primeira Comunhão. Cada dia era uma reação nova, dando-nos entusiasmo e a certeza da sua recuperação. Ele não deixou de ser um excepcional, não falava, mas criou gestos para se comunicar. Seus dons eram muito fortes, uma fé maravilhosa, um imenso amor por Jesus, Nossa Senhora e Irmã Benigna.” - Maria do Carmo Mariano.

Humberto, apesar de todos os prognósticos contrários à sua vida desde o início, faleceu aos 57 anos de idade em casa, rodeado por sua mãe e irmãos, no dia 08 de junho de 2019. Morreu como uma criança: puro, franco e sábio, deixando atrás de si um rastro bonito de uma obra grandiosa de Deus. Sofreu muito durante toda sua vida, até o fim, por causa da sua condição física, mas sempre alegre, sempre puro, sempre irradiando beleza para todos. Foi a pessoa mais importante da família Figueiredo Mariano, foi o responsável pelo amadurecimento de todos, pela fé que todos conseguiram. Foi através dele que Dona Maria do Carmo conheceu a Irmã Benigna. Humberto foi o instrumento de Deus para aproximar as duas e fazê-las grandes amigas. E desta amizade e respeito veio a divulgação da devoção à Irmã Benigna, a Associação dos Amigos da Irmã Benigna e o Processo de Beatificação. Humberto Luiz, o nosso herói, foi o Anjo da Transformação enviado por Deus para ser a causa da mudança de muitas vidas, muitas famílias, através da devoção à Serva de Deus. E, hoje, junto à sua querida Irmã Benigna, na presença de Deus, também intercede por todos nós. Esta é uma pequena homenagem que a Equipe de Comunicação da Amaiben presta a este grande herói, que voltou ao Pai, recentemente.